MEE - Resumo e conclusões
Resumo
O MEE é, à primeira vista, um fundo de assistência financeira aos Estados-membros da Zona Euro; actua de forma coordenada com o Conselho Europeu e o FMI; em conjunto com o Conselho Europeu tem poderes políticos superiores aos poderes dos órgãos soberanos de cada Estado-membro.
Os Estados-membros têm quotas no fundo financeiro do MEE. A proporção dessas quotas determina o peso de cada país nas decisões do MEE – logo, os países mais ricos têm um maior poder sobre as soluções adoptadas para resolver os problemas de dívida dos países mais pobres e impor medidas macroeconómicas e estruturais. Estas decisões são tomadas por maioria simples (51 % dos votos). Dado o sistema de votos vigente, para obter uma maioria simples bastam três países dominantes: Alemanha, França, Holanda.
Os directores executivos do MEE podem a qualquer instante exigir dos Estados-membros um aumento das suas quotas no prazo de 7 dias. Se esta solicitação não for satisfeita no prazo previsto, o Estado-membro em questão sofre sanções, incluindo perdas de soberania.
Os fundos do MEE não servem apenas para suporte financeiro aos Estados – também podem ser dirigidos para as instituições financeiras privadas e para o mercado de especulação financeira. Em qualquer dos casos de assistência financeira (às entidades públicas ou às privadas) o Estado-membro em questão tem de aceitar condições políticas e macroeconómicas (vulgo «memorandos» ou «pacotes de austeridade»).
Os corpos administrativos e executivos, bem como o pessoal ao serviço do MEE, são inimputáveis – isto é, situam-se acima da lei e dos tribunais – e beneficiam de um estatuto fiscal especial, decidido por eles próprios.
A inimputabilidade dos responsáveis e funcionários do MEE faz prever que:
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o MEE vai tomar decisões políticas de fundo que irão afectar gravemente a vida das populações e a integridade dos órgãos soberanos nacionais; a gravidade destas decisões poderia levar os responsáveis aos tribunais internacionais de crimes contra a humanidade, se eles não fossem inimputáveis … ;
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haverá uma enorme promiscuidade entre os responsáveis e funcionários do MEE e os interesses financeiros privados;
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haverá todo o tipo de incompatibilidades morais, éticas, políticas e económicas entre os cargos desempenhados no MEE e os interesses pessoais noutros negócios.
Conclusão
O Mecanismo Europeu de Estabilidade articula-se estreitamente com o novo Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e Governação na UE (TECG). A articulação de ambos os tratados é muito mais do que um mecanismo financeiro – é um directório político com poderes absolutos sobre os governos e a soberania dos Estados-membros.
A acção conjugada do Tratado sobre Governação com o Tratado do MEE, a capacidade que ambos têm de impor condicionantes ao exercício das soberanias nacionais e à tomada de decisões estratégicas e macroeconómicas, a inimputabilidade dos seus responsáveis e as suas ligações directas aos interesses financeiros privados fazem deste mecanismo um directório autoritário, de tipo ditatorial.
A constituição de formas de governo centralizado e autoritário no seio da Europa, há muito denunciada, fica mais uma vez clara nestes dois tratados. Fica também clara a batuta da banca privada na condução das políticas europeias.
Índice deste caderno
Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE)visitas (todas as línguas): 3.240