Oxímoros para todos os gostos
Tivemos uma semana rica em disparates elucidativos.
O discurso de António José Seguro
O n.º 1 do PS fez um discurso longuíssimo num encontro de militantes que pretende discutir «ideias» para a próxima legislatura.
Depois de um extenso relambório de mais de 20 minutos em que, num tom extremamente optimista, elencou todas as conquistas do pós-25 de Abril, a dinâmica da economia portuguesa (?) e até falou em socialismo, aplicando aquela técnica muito gira que consiste em ter um teleponto à esquerda e outro à direita, de modo que o discurso é todo dito com a cabeça a abanar para a esquerda e para a direita, como os robertos, finalmente, mesmo no fim, Seguro disse ao que vinha: temos de construir um «capitalismo decente» (sic).
Apesar de se tratar de uma pura contradição de termos, ficamos muito mais descansados...
O QI da austeridade
Não recordo já quem (terá sido o supracitado?) teve a bondade de nos explicar que não há por onde fugir, teremos de apanhar com a austeridade, mas, valha-nos isso, podemos modificá-la um bocadinho, não há razão para que não seja uma «austeridade inteligente».
Com uma austeridade inteligente e um capitalismo decente, estamos safos.
A hipocrisia de Krugman
Vários amigos e conhecidos meus andavam estusiasmadíssimos com a vinda do sr. Krugman a Portugal – até propuseram ir lá filmar e gravar.
Eu, que não conhecia o senhor de parte nenhuma, fiquei boquiaberto com as declarações do ilustre laureado. O homem é uma nulidade hipócrita. Fala da situação em Portugal com um ar vendido, desconfortável, e só diz banalidades confusas.
Nem uma palavra sobre a crise da dívida. Em compensação, teve a bondade de nos informar que todos os nossos problemas se resolverão se diminuirmos drasticamente os salários, pondo-os abaixo do nível salarial alemão.
(Terá sido este tipo que teve a tirada da «austeridade inteligente»?)
Eu acho que ele não faz a mais pequena ideia de qual seja o real nível salarial português (nem alemão, já agora), não faz ideia de quem está a pagar esses salários, nunca ouviu falar do novo esquema dos governos europeus que consiste em oferecer aos patrões dinheiro dos contribuintes para subsidiar parte dos salários, etc.
Quando o corpo se habitua à porrada...
A propósito da avaliação da Troika cá à nossa terrinha, passámos a semana a ouvir perguntas sobre o futuro da austeridade: vai ser preciso mais austeridade? prevêem-se novas medidas? etc., em todas as variantes possíveis, excepto uma: quando vamos acabar com a austeridade? vamos ter menos austeridade?
Por incrível que possa parecer, esta pergunta não ocorreu a nenhum comentador, político, economista com ou sem prémio Nobel.
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