Skip to content
Por motivos técnicos, este site teve de ser reconstruído de raiz. Algumas das suas funcionalidades e páginas anteriores perderam-se e é possível que algumas ligações tenham sido quebradas.

As greves das mulheres recordam que são elas quem produz a maior parte da riqueza da sociedade

Numa entrevista publicada pela Truthout com data de 9/02/2018, a jornalista Sarah Jaffe conversa com duas das organizadoras da Greve Internacional das Mulheres nos EUA, Cinzia Arruzza e Tithi Bhattacharya, sobre os laços entre o movimento sindical e o movimento #MeToo e sobre a preparação da greve.

Sarah Jaffe: Falemos da história das greves de mulheres, porque é uma coisa que existe há décadas no movimento das mulheres mas que de repente voltou a estar na baila.

Cinzia Arruzza: As greves de mulheres não são uma novidade. Mas o facto de terem um impacte internacional tão grande, serem formalmente reconhecidas, construírem a identidade deste novo movimento feminista, isso sim, é novo. Há um precedente nos anos 1970: a greve das mulheres na Islândia, por salários iguais. E, há dois anos, o movimento feminista polaco decidiu recorrer a esta forma de luta e organizar uma greve das mulheres na Polónia contra a proibição do aborto. O mesmo sucedeu na Argentina, com vagas de greves e mobilizações de mulheres contra a violência de género.

As greves das mulheres tornam visíveis não só os aspectos de que elas são vítimas, mas também o poder que essas mulheres têm

A partir daí – e sobretudo por essas mobilizações e greves terem alcançado um enorme sucesso na Argentina e na Polónia – nasceu a ideia de organizar uma greve internacional das mulheres no 8 de Março. As greves de mulheres são um meio muito poderoso de mobilização para o movimento feminista, pois tornam visível não só as coisas que vitimam as mulheres, mas também o seu enorme poder potencial – porque são trabalhadoras, estão ao mesmo tempo no mercado de trabalho formal e na esfera social reprodutiva, em casa, etc. Assim, o facto de as mulheres poderem fazer greve na sua qualidade de mulheres torna evidente o trabalho que elas realizam, o facto de serem elas que tornam possível a vida no planeta e portanto o seu poder potencial – trabalho esse que frequentemente não é reconhecido nem avaliado como devia ser.

Tithi Bhattacharya: Mesmo no ano passado, quando a greve foi anunciada, o termo «greve» foi em certa medida reprimido, por ser considerado uma interrupção do trabalho no local de produção. O emprego do termo «greve» para qualificar esse momento de luta das mulheres é extremamente importante, dá-lhe uma grande força – ainda que o termo inclua diversas realidades históricas …

Penso que uma das coisas que foi fácil de formular no contexto do ano passado, assim como este ano, é a diferença entre uma greve no local de trabalho e uma greve política1. Acho que a greve das mulheres foi uma contribuição muito importante para a história da greve política, em particular no contexto neoliberal de declínio da sindicalização em todo o mundo, em resultado dos ataques da elite dirigente mundial contra os sindicatos desde os anos 1970 e 1980. A classe operária perdeu em grande medida a sua arma mais poderosa, que era a greve nos locais de trabalho, ou seja os sindicatos.

Isto não significa, como muitas pessoas pensam, que a classe trabalhadora está morta … ou que não dá resposta aos contínuos ataques contra as suas condições de vida e de trabalho. Penso que, neste contexto, a greve política é muito importante, porque o que aconteceu no 8 de Março do ano passado, pelo menos nos EUA, foi qualificado como greve. Fizemos questão em manter o termo, em denominar a acção como greve, donde resultou uma intensa discussão política sobre a relação entre as mobilizações dentro do local de trabalho e fora do local de trabalho. Estamos convencidas de que num período em que a capacidade de agir nos locais de trabalho está diminuída, a greve política é um meio útil para relançar esse debate e talvez para voltar a reforçar a capacidade de mobilização nos locais de trabalho.

Sarah Jaffe: Temos assistido a um regresso do interesse pela ideia de greve política, especialmente nos EUA, desde que Trump foi eleito. No ano passado houve várias «jornadas sem imigrantes». Aconteceram coisas como a Yemeni Bodega Strike2 [greve dos merceeiros iemenitas] e a New York Taxi Workers' Strike [greve dos condutores de táxi de Nova Iorque], em resposta directa às políticas de Trump. É interessante notarmos o reavivar da ideia de greve política e a forma como os sindicatos têm participado nesse debate – em especial aqui nos EUA, mas também noutras partes do mundo.

Cinzia Arruzza: Acho isso muito importante. Parece-me evidente que as referências às greves políticas assinalam o facto de as pessoas que vivem nos EUA e em particular os operários se encontrarem privadas de um dos meios cruciais de luta e protesto, geralmente reconhecidos noutras democracias liberais. Note-se que não estou a falar de formas de luta insurreccional. As greves políticas estão a acontecer numa série de países. São legais, reconhecidas e são um poderoso instrumento sempre que as políticas de governo não podem ser combatidas ou influenciadas por outros meios. Espero que este apelo e que estas greves políticas tenham servido para abrir realmente o debate político e dar início a uma campanha para mudar as leis laborais e para repensar a fundo o que devem ser os direitos do trabalho nos EUA, porque sem dúvida os EUA têm as leis laborais mais antidemocráticas do conjunto das democracias liberais. É sem dúvida uma situação excepcional.

Tithi Bhattacharya: No que diz respeito à greve política há duas coisas muito importantes a destacar. A primeira é a ideia de que a greve não tem só a ver com «pão e manteiga», isto é, com as condições de trabalho, reduzindo as lutas ao local de trabalho e às questões relacionadas com o salário e outras compensações do trabalho. Uma das coisas mais importantes a notar, no que diz respeito ao trabalho das mulheres e à greve das mulheres, é que as pessoas fazem greve por causa das suas más condições de vida; fazem greve no local de trabalho, porque o trabalho tem a ver com uma forma de sobreviver. Quando as suas condições de vida se deterioram, avançam para formas de luta no local de trabalho.

Esta relação entre a vida e o trabalho é frequentemente esquecida pelas burocracias sindicais

É muito simples, mas não podemos perder de vista que a deterioração das condições de vida é que leva as pessoas reflectir e lhes dá ânimo para lutar; chegam à conclusão de que a única maneira de viverem com dignidade é lutarem. Esta relação entre a vida e o trabalho é frequentemente esquecida pelas burocracias sindicais. As burocracias gostam de encarar o sindicato como uma espécie de reduto onde as lutas salariais apenas são avançadas no momento de negociar os contratos colectivos. Mas para os assalariados não se trata apenas da negociação de um contrato – ainda que o seja em sentido literal – mas também das suas vidas e das condições de vida.

As greves políticas são muito importantes porque – tanto no caso da inexistência de sindicatos nos locais de trabalho, como no caso dos sindicatos que apenas se importam com as negociações salariais – as greves políticas falam de um mundo mais vasto, da melhoria das condições de vida. Por outras palavras, a greve política volta a trazer para o centro do debate o «pão e rosas», em vez do «pão e manteiga». Fornece um contexto mais vasto e mais fundo ao sentido da luta e aos ganhos resultantes da luta e da solidariedade. Parece-me, particularmente neste contexto, que a greve política desempenha um papel vital ao recordar às pessoas como as condições de vida dos trabalhadores e as condições de trabalho estão interligadas e devem manter-se ligadas.

Sarah Jaffe: Para quem não conheça a história, diz-nos resumidamente donde vem a fórmula «pão e rosas» …

Tithi Bhattacharya: São as palavras duma canção escrita durante a greve de Lawrence em 1912 3, uma greve de trabalhadoras, que saíram vitoriosas. Mas também surgiu na sequência de uma vaga de greves e de construção de sindicatos nos locais de trabalho, feitos por mulheres, que começou após o incêndio de uma fábrica de têxteis nova-iorquina, a Triangle Shirtwaist Factory4, e deu origem à sindicalização das mulheres, pela primeira vez e graças à organização de jovens imigrantes nos EUA. A canção é um lembrete muito importante tanto do poder deste conceito – a ideia de que fazemos greve pela vida e pelas condições de vida –, como do papel desempenhado pelas mulheres nas lutas no local de trabalho.

Sarah Jaffe: Este ano a greve das mulheres decorre em pleno movimento #MeToo. Falem-nos deste contexto, que inclui um debate renovado sobre o assédio sexual e a violência sexual, e da sua relação com a greve deste ano e a sua organização.

Cinzia Arruzza: Penso que deveríamos olhar também para a ligação entre a vaga de mobilizações feministas pelo mundo fora de há um ano e meio para cá e a explosão da campanha #MeToo. Nos EUA – mas também à escala internacional – #MeToo foi muito importante, pois tornou patente o que muitas mulheres já sabiam: que a violência e o assédio fazem parte da vida quotidiana da maioria das mulheres – tanto nos locais de trabalho como nas ruas. Tornou-se evidente que a violência de género exige uma resposta colectiva. Deste ponto de vista, a Greve das Mulheres não é tanto uma alternativa ao #MeToo, mas um contributo ou uma tentativa de dar uma resposta colectiva ao isolamento gerado pela vitimização.

A ideia é dar mais um passo à frente em relação ao #MeToo: depois de denunciar ao nível individual todo o assédio e violência a que estamos sujeitas ao longo da vida, deve haver também um momento de resposta colectiva e organizada. Se assim não for, as condições estruturais que permitem a persistência deste tipo de violência de género nunca nunca serão postas em causa. Um dos riscos de concentrar toda a atenção nas questões da violência de género é que – apesar de nos vermos livres de alguns perseguidores odiosos, uns mais famosos outros menos, o que é uma boa coisa, claro está, e de isto ser um bom momento de catarse, por assim dizer –, o problema de fundo fica por resolver.

A falta de sindicalização, a falta de direitos laborais [nos EUA] criam claramente as condições para a violência de género

Por outras palavras: o verdadeiro problema não são uns quantos homens horríveis. O verdadeiro problema são as condições estruturais que criam as condições e a impunidade para a violência de género e a violência sexual. Deste ponto de vista e na perspectiva da greve, é de facto muito importante, porque já vimos ao longo dos últimos meses a que ponto as mulheres são assediadas e abusadas no local de trabalho, mas isso tem claramente a ver com a forma como o local de trabalho está organizado e com as relações de trabalho em geral. Tem a ver com a natureza hierárquica das relações laborais dentro do local de trabalho, com a falta de poder dos assalariados.

Além disso, deste ponto de vista, a falta de sindicalização, a falta de direitos laborais [nos EUA] cria claramente condições para um agravamento da violência de género, porque as mulheres estarão constantemente sujeitas ao medo de falar contra o ponto de vista de um colega ou do empregador, precisamente por sentirem que não têm garantida qualquer protecção dos seus interesses. Por isso mesmo estamos a alargar o âmbito do que entendemos por «violência de género». A greve levanta uma série de questões cuja relação com a violência de género não é imediatamente apercebida, mas que quanto a nós constituem o âmago das relações sociais estruturais que permitem e promovem a violência de género.

Tithi Bhattacharya: Vou só acrescentar três aspectos muito específicos do #MeToo que, na minha opinião, completam o 8 de Março – foi por isso que incluímos o #MeToo na nossa organização.

Primeiro: quando foi a última vez que viram debates constantes sobre as condições de trabalho no New York Times? Isso aconteceu graças ao #MeToo. Nunca vimos tantos artigos nos meios de comunicação dominantes, sobre as condições de trabalho das mulheres. Sim, é verdade que na sua maioria eram acerca da violência sexual exercida sobre as mulheres, mas também sobre a generalidade das pessoas. Isto é um debate notável. Nunca tinha visto um debate tão extenso sobre as condições de trabalho. É claro que os meios de comunicação liberais não lhes chamam «condições de trabalho», mas nós sabemos bem que toda esta discussão tem a ver com as condições de trabalho. Isto é um acontecimento muito bem-vindo: pela primeira vez em muitos anos estamos a assistir ao levantamento de perguntas sobre o que significa ser trabalhador neste país.

Segundo: trata-se de uma tomada de consciência que até hoje era exclusiva dos socialistas e dos radicais neste país e que agora começou a entrar na linguagem corrente. Ou seja, toda a gente sabe que desde o início do século XX até hoje, houve um aumento acentuado dos direitos da mulher e da participação das mulheres na esfera pública e na esfera laboral. Ainda que esse desenvolvimento tenha sido acompanhado por reacções violentas – como as leis sobre a justiça reprodutiva [aborto, planeamento familiar, etc.], a desigualdade salarial, etc. Mas se olharmos para as vidas das nossas avós em qualquer país e para a nossa vida actualmente, acho que o balanço é positivo. Certamente, como mulher, não quero regressar a 1890 em parte alguma do mundo. Em vários aspectos, graças a muitas lutas, a vida das mulheres melhorou.

#MeToo pôs de facto a nu quão ditatorial e brutal é o local de trabalho para a maioria das mulheres

Mas, por outro lado, creio que os direitos dos trabalhadores decaíram acentuadamente, em especial a partir dos anos 1970 e 1980, com a chegada do neoliberalismo. Vemo-nos agora perante uma situação contraditória em que os direitos das mulheres melhoraram ao longo dos anos, em diversos aspectos, mas os direitos dos trabalhadores no seu conjunto entraram em declínio. Ou seja, as mulheres são particularmente vulneráveis nos locais de trabalho, porque é aí que se reúnem as condições de opressão das mulheres e o declínio das condições dos trabalhadores em geral.

A solução que o capitalismo nos oferece é esta: «Já que conseguiram melhorar a vossa situação como mulheres, agora é altura de que cada uma tratar da sua vida». A solução oferecida para as más condições de vida e de trabalho das mulheres tem sido, claro está, «acomodem-se», porque agora até já podem subir na vida e aceder aos cargos de administração.

Em terceiro lugar – e creio que isto é muito importante para os nossos propósitos –, há que perguntar: e como vamos nós ripostar? A razão pela qual se tem falado tanto de ripostar é precisamente porque, nos debates do #MeToo, se fala das condições de trabalho. Toda a gente sabe que a violência doméstica existe em quantidades assustadoras, tanto nos EUA como no resto do mundo, mas a vantagem da discussão sobre os locais de trabalho nesta situação é que há testemunhas e há outras pessoas que passaram pelo mesmo, porque são colegas de trabalho … E isto cria uma confiança colectiva, porque existe uma experiência colectiva, e é por isso, julgo eu, que a campanha #MeToo foi amplificada – porque vem de um lugar de resistência colectiva.

Sara Jaffe: Falem-nos da organização da greve das mulheres este ano. O que é que já está planeado neste momento e o que se passa com a solidariedade internacional?

Tithi Bhattacharya: Ao nível internacional estive em comunicação telefónica com a organização internacional e as coisas estão a correr bem em diversos países – especialmente em Itália, Espanha, Polónia, Argentina e vários países da América Latina. No Reino Unido, onde estive o mês passado, o núcleo organizador chama-se Women's Strike Assembly e está a fazer um trabalho fantástico de ligação entre o 8 de Março e a greve alargada nas universidades que está a ser preparada. Estão a fazer contactos com membros das universidades em todo o país e têm sido incansáveis na comparência a várias reuniões de greve, etc.

O mais espectacular é que por serem organizadas por mulheres e feministas, todas estas acções têm características semelhantes. Por exemplo, quando organizam qualquer coisa, há sempre um lugar para cuidar das crianças – com comida e jogos infantis inovadores. Por outras palavras, as coisas são organizadas de forma a que as crianças possam sentir-se felizes e entretidas, enquanto as mães estão a fazer política. Algumas dessas iniciativas são hilariantes e inspiradoras, e este traço é comum a nível internacional.

Como nós produzimos a riqueza da sociedade, também podemos parar de produzir essa riqueza e travar a azáfama da sociedade

Nos EUA o nosso plano mais ambicioso este ano consiste em desenvolver o que iniciámos apenas como debate no ano passado: a questão da greve política. Trata-se de levar as coisas por diante em moldes mais concretos e apelar a uma greve de uma hora. Para já, em todo o país, no 8 de Março, vamos parar de trabalhar como mulheres durante uma hora, para mostrar aos patrões, e àqueles que os apoiam na Casa Branca, que o facto de produzirmos a riqueza da sociedade nos permite pararmos de produzir essa riqueza e travar a azáfama da sociedade. É um lembrete simbólico do nosso poder como mulheres e como trabalhadoras. Estamos a trabalhar em conjunto com vários sindicatos para realizar esta acção.

Cinzia Arruzza: Antes de tudo o mais, reactivámos uma espécie de comité nacional de planeamento que consiste essencialmente numa rede de vários activistas espalhados por todo o país que dedicam o seu tempo e o seu trabalho a esta greve. Em Nova Iorque fizemos o lançamento público da Women's Strike [Greve das Mulheres] com um painel que incluiu algumas oradoras espantosas. Este acontecimento transmitiu uma grande energia e reuniu o tipo de mulheres que a Greve das Mulheres precisa – em especial mulheres da classe trabalhadora, mulheres provenientes de minorias e que não só participam na greve mas também estão envolvidas em numerosas lutas nos locais de trabalho, contra o departamento federal de polícia das fronteiras (ICE) e assim por diante – e que por vezes alcançam vitórias e assim demonstram que as acções colectivas podem sair vitoriosas.

É com este espírito que estamos a preparar a greve de uma hora e a discutir com as organizações de trabalhadores, para vermos como é possível organizar a greve. Vamos também fazer um comício e uma manifestação no seguimento da greve de uma hora. Cremos que será possível fazer manifestações, marchas e comícios na maioria das grandes cidades dos EUA. A greve em Los Angeles já está a ser organizada, assim como na Bay Area de São Francisco, em Portland, em Filadélfia … Além disso estamos a receber imensos contactos, e-mails, mensagens de pessoas interessadas – pessoas que leram, por exemplo, o artigo que publicámos no Guardian apelando à greve nos EUA este ano – e que estão interessadas em juntar-se a nós.

Como de costume, trata-se de um esforço totalmente voluntário, apoiado nas organizações de base e autofinanciado. As pessoas doam o seu tempo e o seu trabalho; em certo sentido, é nisso que reside a beleza da iniciativa – no facto de à volta da organização da greve, estarmos de alguma forma a consolidar uma zona de feminismo anticapitalista que oferece uma alternativa ao feminismo elitista e carreirista [corporate], ao feminismo acomodatício [lean in] que tem dominado nos últimos anos. Acho que existe espaço político e vontade para fazer isto, pelo menos a julgar pela resposta entusiástica que muitas activistas feministas têm dado em todo o país à ideia de organizar uma greve.

É claro que quem quiser trabalhar connosco pode contactar-nos através do nosso site ou da página do Facebook e organizar uma greve na sua cidade.


Nota [da redacção do Truthout]: esta entrevista foi ligeiramente editada a bem da sua extensão e clareza.


Notas

1 Nos EUA (mas também na Alemanha) a greve «política é considerada «ilícita» … [N. do T. para francês]

2 Mais de um milhar de mercearias geridas por iemenitas em Nova Iorque, geralmente abertas 24 horas/dia, fecharam no dia 2/02/2018; reuniram-se diante da sede da autoridade municipal de Brooklyn para protestar contra a suspensão por decreto dos vistos das pessoas provenientes de sete países, na sua maioria muçulmanos, entre os quais o Iémene. [N. do T. francês]

3 A greve dos têxteis de Lawrence, também conhecida por greve do pão e das rosas, foi feita por trabalhadores migrantes da Industrial Workers of the World (IWW) em 1912, em Lawrence (Massachusetts). Foi desencadeada em janeiro, quando um proprietário decidiu diminuir os salários dos seus trabalhadores, após a entrada em vigor de uma lei que reduziu a duração do trabalho; mobilizou numa semana cerca de 20 000 operários e durou dois meses. Os grevistas conseguiram um aumento de 20 % do salário/hora, que alastrou a outras empresas. «Bread and roses» foi cantado por Joan Baez. É também o título de um filme de Ken Loach sobre as trabalhadoras e trabalhadores imigrados da limpeza. [N. do T. português e N. do T. francês]

4 Uma das catástrofes industriais mais mortíferas na cidade de Nova Iorque, em março de 1911. 123 trabalhadoras e 23 trabalhadores perderam a vida. uma das saídas da fábrica estava fechada, para facilitar o controlo dos capatazes sobre os operárias, consideradas «ladras potenciais». [N. do T. da versão francesa]

 

 

Fontes e referências

Cinzia Arruzza é professora assistente de filosofia na New School for Social Research de Nova Iorque. Publicou Ligações Perigosas: Casamentos e Divórcios do Marxismo e do Feminismo.

Tithi Bhattacharya ensina História na Purdue University. O seu primeiro livro intitula-se The Sentinels of Culture: Class, Education, and the Colonial Intellectual in Bengal.

Sarah Jaffe trabalha no The Nation Institute e escreve sobre sindicalismo, justiça social e economia e política para, entre outros, Truthout, The Atlantic, The Guardian, In These Times. Publicou Necessary Trouble: Americans In Revolt (Nation Books, 2016).


 

Este artigo foi traduzido por Rui Viana Pereira, a partir da versão francesa publicada por Inprecor.

Versão original: «Women's Strikes Are a Reminder That Women Produce Most of the Wealth in Society», 9/02/2018, in Truthout.


A Constituição portuguesa diz o seguinte:

«Art. 57 (direito à greve e proibição de lock-out)
1. É garantido o direito à greve.
2. Compete aos trabalhadores definir o âmbito de interesses a defender através da greve, não podendo a lei limitar esse âmbito. [...]».

O ponto 2 é de uma clareza exemplar em relação à autonomia dos trabalhadores para decidirem das formas e do carácter da greve. Não menciona qualquer distinção entre greve política e greve laboral. Poder-se-ia argumentar, quando muito, que a menção de «trabalhadores» tende a restringir o universo das pessoas elegíveis para o exercício deste direito. Mas de facto, como a expressão usada é «trabalhadores» e não «assalariados», esse universo permanece amplo – parece-me evidente, por exemplo, que uma mulher que exerça a actividade doméstica deve ser considerada trabalhadora, ainda que não seja assalariada.

No Brasil a situação é um pouco diferente:
Constituição federal, 1988, artigo 9: «É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender». A lei 7.783/89, artigo 13, especifica: «Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação» – o que, julgo eu, não restringe aos sindicatos o direito exclusivo de declarar a greve, mas restringe o cenário da greve aos locais de trabalho e à relação directa entre patronato e assalariados, e respectivas «negociações».

 
temas: feminismo

visitas (todas as línguas): 6.558
 

Este sítio usa cookies para funcionar melhor